Não perca as oportunidades

Há um provérbio chinês muito apropriado que diz:
Existem três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.
Então pense antes de agir, pense antes de falar, mas não demore a pensar o que deve fazer quando uma oportunidade aparecer em sua vida!!!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A Revelação de Deus

Introdução:

O filme “Uma Mente Brilhante”, vencedor de quatro “oscars” no ano de 2001, conta a história de John Nash, um brilhante matemático que sofria de uma doença psicológica chamada esquizofrenia, cujos sintomas se manifestam na forma de alucinações diversas. A maior dificuldade enfrentada por Nash e retratada no filme está em discernir entre a fala de seres humanos reais e as vozes de personagens criadas pela sua própria imaginação.
Vivemos num tempo onde os sintomas da esquizofrenia de John Nash parecem afetar a maioria dos seres humanos. Olhando para o mundo em nossa volta, vemos pessoas caminhando sem direção, sem saber a quem ouvir, sem conseguir distinguir as vozes entre um coro desencontrado de opiniões que lhes chegam, sem ter uma voz em que se possa confiar e que transmita a verdadeira segurança.
Em contrapartida, nós, cristãos-renovados, sabemos muito bem a quem ouvir. Seguindo o exemplo dos reformadores, que ousaram ouvir somente a voz de Deus, através da Sua Palavra, em detrimento a outras vozes que alegavam ter autoridade igual ou superior à Bíblia. É relevante para os nossos dias entendermos as formas da revelação de Deus, pois a revelação de Deus para nós fortalece a nossa fé e nos atrai a uma intimidade com ele.
Passemos a observar as diversas formas como Deus se revela a nós.


1 A REVELAÇÃO

O sentido da palavra revelação é descobrir, retirar o véu, descobrir-se, e em Sl 103.7, Ex. 6.3, Nm 12 6-8 e Ez 20.5 usam as formas passiva ou reflexiva do verbo yada‘, “conhecer”, ra’â, “ver” e a forma intensiva do verbo dabar, “falar”. O hebraico não possui um substantivo que signifique “revelação”; possui o verbo galâ, “revelar”. A raiz ocorre cerca de 180 vezes no Antigo Testamento. Ela contém dois conceitos básicos: “desvendar” “revelar” e “ir para o exílio”.
A palavra galâ é empregada predominantemente no Antigo Testamento no sentido de “ir embora”, “ser aberto” (Jr 32 11, 14). Em alguns casos refere-se à revelação do próprio Javé.
A revelação obrigatoriamente dá-se da parte de Deus para o homem. O ser humano não consegue a revelação de Deus por sua própria força ou vontade.
“Um menino de dois anos de idade, cujo pai tenha um cérebro como o de Einstein pode conhecer o pai num relacionamento agradável de pai e filho. Esse conhecimento é o que importa. Entretanto, o menino poderia compreender muito pouco do que está na mente do pai, por mais que este tente explicar em palavra para ele. Há limites para o que uma criança de dois anos de idade, por mais carinhosa que seja, possa captar. Em nosso relacionamento com nosso Criador, somos com crianças muito pequenas diante dele. Nós o conhecemos de maneira plena e rica, pois ele nos ama, demonstrou o seu amor nos remindo e ainda o demonstra nas misericórdias diárias; ele abriu os braços e o coração para nós e fala-nos ainda por meio da Bíblia. Intelectualmente, porém Deus permanece de todo misterioso para nós em alguns pontos e mais ou menos misterioso em todos os pontos”.
O antigo testamento fala com freqüência em “ conhecer” (yd‘) ou “ não conhecer” Javé ( Is 1.3; jr 2.8; 4.22; 31;34; Os 2.20; 4.1,6; 5.3-4; 6.6; 13.4).
O conhecimento no Antigo Testamento é bem diferente de nosso entendimento do termo. Para nós, conhecimento implica compreender coisas pela razão, analisar e buscar relações de causa e efeito. No Antigo Testamento conhecimento significa “comunhão”, “familiaridade intima com alguém ou algo”. Falando em nome de Deus a Israel, Amós disse:
De todas as famílias da terra a vós somente conheci; portanto, todas as vossas injustiças visitarei sobre vós. (Am 3.2)
O Antigo Testamento faz do “conhecimento de Deus” a primeira exigência da vida, mas jamais explica o significado do termo. O propósito da revelação divina não é declarado especificamente no Antigo Testamento.
O conhecimento de Deus é mais que um mero conhecimento intelectual, diz respeito à vida humana como um todo.
È essencialmente uma comunhão com Deus e é também fé; é um conhecimento do coração que exige o amor do homem ,sua exigência vital é que o homem aja de acordo com a vontade de Deus e ande humildemente nos caminhos do Senhor. É o reconhecimento de Deus como Deus, a rendição total a Deus como Senhor.


2 Os meios da Revelação

A Bíblia declara que Deus se revela de várias maneiras. Manifesta sua glória na natureza e por meio dela. Revelou-se nos tempos antigos por meio de sonhos e visões. As marcas da sua providência se manifestam nas páginas da História. Revela-se nas Escrituras inspiradas.
2.1 A revelação geral.
Os meios tradicionais de revelação geral são três: a natureza, a história e a constituição do ser humano. A própria Escritura propõe que existe um conhecimento de Deus a que se chega por meio da ordem física criada. O salmista diz : “Os céus proclamam a glória de Deus” (Sl 19.1). E Paulo diz: “os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1.20).
O segundo meio de revelação geral é a história. Se Deus está atuando no mundo e move-se em direção a certos alvos, deve ser possível detectar o curso de sua obra nos acontecimento que ocorrem como parte da história. Um exemplo muito citado de revelação de Deus na história é a preservação do povo de Israel. Essa pequena nação vem sobrevivendo ao longo de séculos, em ambientes basicamente hostis, muitas vezes em face de severa oposição.
“Quem investigar os registros históricos encontrará um padrão notável. Alguns encontram grande significado em eventos isolados da história, por exemplo, a desocupação de Dunquerque e a batalha de Midway na II Guerra Mundial. Acontecimentos isolados, no entanto estão mais sujeitos a divergência de interpretações que o curso mais largo da história, tal como a preservação do povo especial de Deus”.
O terceiro meio de revelação geral é a suprema criação terrena de Deus, o próprio homem. Às vezes, a revelação geral de Deus é vista na estrutura física e na capacidade mental dos homens. È, porém, em suas qualidades morais e espirituais que se percebe melhor o caráter de Deus. Os humanos fazem julgamentos morais, ou seja, julgamento sobre o que é certo ou errado. Isso envolve mais do que nossa preferência pessoal – gostar ou não gostar - e mais que mero utilitarismo. Com freqüência sentimos que devemos fazer algo, seja-nos isso vantajoso ou não, e que outros têm o direito de fazer alguma coisa da qual, pessoalmente, não gostamos.
A revelação geral também é encontrada na natureza religiosa da raça humana. Em todas as culturas, em todos os tempos e lugares, os homens vêm crendo na existência de uma realidade superior a si mesmos, e até em algo superior à raça humana como um todo.

2.2 A revelação Particular de Deus.
Por que a revelação especial é necessária? A resposta está no fato de que os homens perderam o relacionamento de favor com Deus, que possuímos antes da queda. Era-lhes necessário que viessem a conhece-lo de maneira mais plena para que pudessem voltar a preencher as condições para a comunhão. Esse conhecimento precisava ir além da revelação inicial ou geral que ainda estava à disposição deles, pois então, juntamente com a limitação natural da finitude humana, também havia a limitação moral do pecado humano.
“Após a queda, a raça humana estava afastada de Deus e em rebelião contra Ele; seu entendimento das questões espirituais esta obscurecido. Desse modo, sua situação estava mais complicada do que era originalmente e, por conseguinte, era preciso uma instrução mais completa”.



3. Os Meios da revelação especial

3.1 Os eventos históricos

A Bíblia destaca toda uma série de acontecimentos divinos pelos quais Deus se faz conhecer. Da perspectiva do povo de Israel, um evento básico foi o chamado de Abraão, considerado pai da nação. A provisão divina de Isaque, como herdeiro, sob condições bem improváveis, foi outro ato divino significativo. A provisão de Deus em meio à fome que reinou na época de José beneficiou não apenas os descendentes de Abraão, mas também outros moradores de toda a região.É possível que o acontecimento principal para Israel, ainda celebrado pelos judeus, tenha sido o livramento do Egito, mediante uma série de pragas que culminou na Páscoa na travessia do mar vermelho. Todos estes são atos de Deus e, portanto, revelações de sua natureza. Os que aqui citamos são espetaculares ou miraculosos. Os atos de Deus não se limitam, no entanto, a tais acontecimentos. Deus vem agindo tanto nestas ocorrências maiores como também em eventos mais rotineiros da história de seu povo.
Afirmar que a História é o desdobramento do “plano divino”, imposto sobre o acontecer da realidade humana, pode ser surpreendente para quem não é familiarizado com a interpretação bíblica. Contudo, para quem tem intimidade com as páginas bíblicas, tal afirmação adquire todas as características de uma revelação. Essa revelação expressa na Bíblia, é transmitida num estilo literário próprio, pleno de simbolismos e denominado profecias.





3.2 O Discurso Divino.
Na revelação especial Deus age de diversas formas. Uma dessas formas é o discurso divino, isto é, a forma como Deus “falou” (aos profetas e aos apóstolos) de diferentes modos: em forma de visões, sonhos, ou seja, por vários meios de comunicação das suas verdades aos seres humanos. Os atos de Deus também fazem parte deste processo de revelação divina.
“A revelação no Antigo Testamento é principalmente histórica, porém outro grande meio de revelação é o discurso divino. No Antigo Testamento a palavra de Deus ocupa um lugar de destaque como meio divino de comunicação com seu povo, entendo que até de forma a direcionar a história, para os objetivos de Deus”.
Uma expressão muito comum na Bíblia e, em especial no Antigo Testamento, é a declaração: “Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo...” ( Jr 18.1; Ez 12.1, 8, 17, 21, 26; Os 1.1; Am 3.1). Os profetas tinham consciências de que a mensagem deles não era de criação própria, mas de Deus.
No Antigo Testamento a palavra é dinâmica , poderosa, uma força que “ocorre” ou sobrevém a alguém.
3.3 Teofanias e epifanias.
Outro meio que Deus se faz conhecido é pelas suas aparições (teofanias/epifanias). Adão e Eva ouviram o som de Deus andando no jardim no frescor do dia (Gn 3.8). O Senhor apareceu aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Gn 15.1-21; 17.1-21; 18.33; 26.2-5, 24,; 28.12-16; 32.24-32).
Teofania é uma palavra de origem grega, Theofhania, que significa "aparição de Deus". Este nome é dado a fenômenos bem definidos e característicos, que ocorrem em muitas passagens do antigo testamento. A teofania é uma aparição ou manifestação de Iawé que revelou sua divindade e poder.
A forma mais freqüente da teofania é a aparição de Iawé como salvador de seu povo dos inimigos.
“A teofania é tipicamente Israelita. No monte sinal Iawé se revela nas convulsões da natureza que são características da teofania: nuvens, fumaça, trovão, terremoto; nestas convulsões ele se manifesta como o Deus da aliança que impõe suas exigências morais a Israel e demonstra seu poder para afirmar sua vontade”.
A extraordinária teofania vivida por Elias (1 Reis 19/11-13) é uma deliberada inversão da teofania tradicional, por isso, nela emerge uma nova concepção das obras de salvação e de julgamento de Iawé. Elias percebe que Iawé não está nos sinais tradicionais da teofania: terremoto, vento e trovão, mas está presente na brisa apenas perceptível. Suas obras de salvação são realizadas não somente pelo poder e a violência simbolizados na imagem da teofania, mas também pelo governo invisível dos acontecimentos, que, embora sem manifestações visíveis, nem por isso é menos eficaz.
Bem próximos das teofanias e/ou epifanias estão os relatos de aparições de Deus a pessoas em visões e sonhos, no anjo do Senhor, em sua face, seu nome ou sua glória, esses veículos, “tecnicamente conhecidos por teologômenos, são as “representações” da divindade em sua natureza real, mas jamais plenamente revelada” .

4. A BÍBLIA E SUAS PARTICULARIDADES
A palavra Bíblia vem do grego bíblia, que significa livros ou rolos (2Tm 4.13). A palavra Escritura deriva do latim scriptura, que significa escrito.
Originalmente era o nome que se dava à casca de um papiro do século XI a. C. 2 Timóteo 4.13: “Quando você vier, traga a capa que deixei na casa de Carpo, em Trôade, e os meus livros, especialmente os pergaminhos”, refletindo a grande importância que lhe era atribuída.
Somente depois de profundas reflexões de ordem teológica é que lhe foi dado o nome de Antigo Testamento, com base em Paulo, 2 Coríntios 3.14: “Na verdade a mente deles se fechou, pois até hoje o mesmo véu permanece quando é lida a antiga aliança. Não foi retirado, porque é somente em Cristo que ele é removido”, “Estão chegando os dias, declara o Senhor, quando farei uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá. Não será como a aliança que fiz com os seus antepassados quando os tomei pela mão para tirá-los do Egito; porque quebraram a minha aliança, apesar de eu ser o Senhor deles, diz o Senhor. Está é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias, declara o Senhor: Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo. Ninguém mais ensinará ao seu próximo nem ao seu irmão dizendo: Conheça ao Senhor, porque todos eles me conhecerão, desde o menor até o maior, diz o Senhor. Porque eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados”( Jr 31.31-34). Isto aconteceu, porém, muito mais tarde, quando o Novo Testamento já estava completo. As antigas promessas de Deus deviam ser distintas das novas, mas não separadas delas.
“O Antigo Testamento refere-se à antiga aliança de Deus com Israel e o Novo Testamento está associado à aliança com Cristo, portanto uma nova aliança. Ambos se apresentam como as duas divisões principais da Bíblia. Sendo que maior parte do Antigo Testamento foi escrita em hebraico e alguns capítulos em aramaico. O Novo Testamento foi escrito em grego que era a língua mais difundida naquela época”.
Além das divisões mencionadas, existem nos dois testamentos grupos de livros, a saber: No Antigo Testamento: livros da lei, livros históricos, livros de sabedoria e livros proféticos e no Novo Testamento: evangelhos, Atos, epístolas e Apocalipse.
Nesses diversos grupos encontramos gêneros literários diferenciados como histórias, parábolas, provérbios, leis, doutrinas, etc.
A Bíblia foi escrita num período que abrange mais de mil anos, (66 livros escritos ao longo de 1500 anos, por aproximadamente 40 autores), diversas línguas pelas mãos de diversas pessoas, em locais diferentes e com propósitos variados. Mas mesmo assim ela revela unidade na apresentação de uma mensagem sobre Deus.
“Por outro lado, a Bíblia é tanto histórica quanto contemporânea, pois embora sendo arraigada nas culturas, línguas e tradições da Antigüidade, também é poderosa para tocar a vida dos leitores atuais. Apresentando uma mensagem simples e ao mesmo tempo complexa, fazendo dela o livro mais estudado do mundo. É um livro igualmente humano e divino, escrito por homens sob a inspiração divina”.

4.1 OS ESCRITORES
“A Bíblia foi escrita por cerca de 40 autores, alguns de épocas diferentes e em lugares diferentes, de profissões e formações diferentes. Dentre os escritores da bíblia encontramos pastores de ovelhas , profetas , boiadeiros, pescadores, eruditos, estadistas, judeus, gentios, legisladores, reis, guerreiros, um médico e outros. Todos estes homens e mulheres foram Inspirados por Deus e Conduzidos pelo Espírito Santo (II Ped.1.20,21). Embora Deus tenha usado pessoas diferentes na composição do livro sagrado, a sua mensagem é sempre a mesma na pena de cada um deles”.
Vale a pena observar que a autoria de alguns livros da bíblia é desconhecida. A exemplo disso podemos citar os livros de Juizes, Rute, Ester, Samuel, Reis, Crônicas, Hebreus. Todavia, o fato de não conhecermos ao certo os escritores destes livros não os torna menos importantes ou menos Inspirados, uma vez que o Autor Principal de tais escritos já é conhecido por todos nós – o Espírito Santo de Deus!
4.2 O AUTOR DA BÍBLIA
A Bíblia é a Palavra de Deus. Foi-nos transmitida através de inspiração, o que significa que o Autor que é Deus, por seu Espírito, produziu-a por meio da mente de homens escolhidos, de modo a elaborar através dos pensamentos e escritos deles a Revelação do próprio Deus e da sua vontade. Isto Deus fez sem privá-los das suas faculdades naturais, nem alterar o estilo, a maneira própria de cada um escrever. Contudo, ao mesmo tempo, Deus os fez seus Agentes infalíveis ao escreverem originalmente as inspiradas mensagens divinas.
4.3 A INSPIRAÇÃO E A AUTORIDADE DA BÍBLIA
A autoridade bíblica é uma necessidade porque, apesar de sermos capazes de obedecer a Deus de modo voluntário não temos o conhecimento sobre Ele, sobre a sua natureza e vontade. Isso ocorre, primeiramente porque os seres humanos são limitados e Deus é ilimitado, sendo impossível que façamos uma descoberta de Deus. Em segundo lugar, não conseguimos conhecer a Deus por causa do pecado, que nos fez cegos diante do conhecimento e entendimento de Deus. Essas duas dificuldades exigem que Deus tome a iniciativa para que ele possa se tornar conhecido.
Entretanto, há dois tipos principais de Revelação: a geral e a especial. A revelação geral é assim chamada tanto por sua disponibilidade a todas as pessoas de todas as épocas, quanto por seu conteúdo menos específico. Consiste na automanifestação de Deus por meio da natureza, da história e da personalidade humana.
A entrada do pecado arruinou o conhecimento natural de Deus por meio da revelação geral, além de ter rompido o relacionamento com ele. Portanto torna-se necessário um conhecimento mais completo que é a revelação especial.

5.REVELAÇÃO ESPECIAL
5.1 A necessidade
“Mesmo antes da queda a revelação especial foi necessária em alguns aspectos. Precisamos refletir que a revelação geral não era suficiente, e após a queda a natureza humana foi obscurecida pelo pecado. O homem não pode fazer uma leitura correta da natureza quando está obscurecido pelo pecado, por isso, na qualidade de crentes não precisamos nos inquietar com o que dizem os paleontólogos e biólogos em suas conjecturas e teorias”.
A leitura da natureza está obscurecida pelo pecado. A revelação geral pode indicar a existência de Deus, mas não pode ir mais além, pois se Deus não “falasse” a nós, ainda permaneceríamos em trevas. Para os homens pós-iluministas, adeptos do cientificismo, educados para não aceitar a idéia do sobrenatural, a revelação geral e especial simplesmente são ignoradas. Até mesmo alguns teólogos têm negado o sobrenatural. São teólogos da alta crítica que rejeitam o sobrenatural. Assim, muitos teólogos têm negado o sobrenatural. Para muitos destes teólogos temos que desmistificar a bíblia, pois os mitos fazem parte do passado.
Desta maneira, podemos detectar três faces na negação da revelação especial, ou seja: 1. Metafísica – com os filósofos da idade média; 2. Teológica – com os teólogos da alta crítica colocando a bíblia como um livro que aborda o passado histórico sem o sobrenatural; 3. Científica – com o cientificismo tecnológico de nossos dias.
Contudo, apesar de trazer enormes contribuições para a humanidade, a ciência não tem solucionado os problemas básicos dos seres humanos. Há algumas questões que impõem uma certa limitação a ciência, ou seja: Há Deus? Ele pode ser conhecido? Qual é a autoridade da vida? Que é a morte? O homem não pode ser a solução para estas questões, a solução tem que vir de uma autoridade fora dele.
Quanto a pergunta: é possível conhecer a Deus? Somente a sua personalidade pode ser parcialmente conhecida por meio da revelação especial. A pessoa é que se revela a nós, se Deus não fala não há maneira de conhecê-lo. Por essa razão as questões finais da vida só podem ser respondidas por aquele que é o autor da vida. A fé me leva a liberdade. Há um magnetismo em Jesus Cristo que homem algum é capaz de explicar. Apenas Deus pode satisfazer os problemas humanos.
A bíblia como revelação especial apresenta respostas às questões que tem a ver com os dilemas humanos relacionados à origem (de onde vimos?), propósito (porque estamos aqui?), destino (para onde vamos?). Somente o conhecimento de Deus pode tirar as pessoas das trevas. Na bíblia encontramos mais de 359 vezes a expressão “assim diz o Senhor”. Deus falou por meio de muitas formas (Cf. Hebreus 1:1). Deus se revelou como um Deus pessoal e fez suas revelações pessoalmente. Porém, o mundo secularizado não crê na palavra de deus como fonte de revelação. Há uma verdadeira desinformação a respeito do cristianismo básico.
E por outro lado há também uma informação equivocada do cristianismo que contém muitos erros.
Há um lugar dentro deste contexto para pensarmos no direito da autovalidação. Consideremos algumas proposições: 1. Cada pessoa tem o direito de falar por si (Cf. S. João 5:31). 2. Algumas verdades não poderiam ser conhecidas se não por meio de Deus, que as conhece em primeira instância. 3. Se não podemos acreditar completamente naquilo que a bíblia fala de si, então não podemos crer em nenhuma outra coisa do que a bíblia fala. 4. A bíblia não apenas diz que é a palavra de Deus, ela de fato é a palavra de Deus (temos o direito de usar a apologia para defender a palavra de Deus). 5. A pessoa de Cristo (Cf. Mateus 16:15 e 16), se Jesus disse quem é, o filho de Deus, ele não pode ser comparado com outro. Logo, suas doutrinas são normativas.

5.2 O Caráter Dinâmico da Revelação:

”Quando os escritores da bíblia falam a respeito da revelação de Deus, falam freqüentemente da palavra de Deus (YHWH), (Cf. I Samuel 3:21; Gênesis 15:1; II Samuel 7:4). Os profetas usam a expressão: “DABAR YHWH” (A Palavra de Javé), (Cf. Amós 1:1). Nas introduções dos livros proféticos de Jeremias e Ezequiel é freqüente a expressão DABAR YHWH. Em Salmos 36:6 a palavra de Deus está relacionada a criação, o que revela que é uma palavra dinâmica e tem um conteúdo”.
Em Gênesis 1:1 a palavra BARAH (criar) revela dinamicidade, pois se refere a criar do nada (sem matéria). Jeremias 8:9 revela uma distinção entre o que Deus diz e o que disseram os homens educados de seus dias. A palavra hebraica DABAR é usada no Antigo Testamento para designar: palavra, conceito, matéria, conteúdo, mandamentos. O discurso é a mais clara expressão do pensamento. Assim é com Deus, seu pensamento é expresso de várias formas por meio de sua palavra.
O paralelismo hebraico e grego tem a palavra como algo vivo. A palavra é o sopro, o discurso de Deus que leva o seu poder. É uma palavra que tem o poder de criar do nada as coisas materiais. A palavra grega RHEMA é usada no Novo Testamento como sinônima de DABAR (Cf. Septuaginta, Hebreus 11:3). Assim com DABAR, RHEMA significa: palavra, conceito, conteúdo. (Cf. Gênesis 18:4 = DABAR; Lucas 1:37; 2:15 = RHEMA). Em alguns lugares RHEMA significa as promessas de Deus (Cf. Romanos 9:6). RHEMA THEOU (a palavra de Deus tem conteúdo), (Cf. Atos 4:31; 13:46; 17:13; Colos. 1:25).
A palavra grega LOGOS usada no prólogo do evangelho de João é a mais distintiva e está repleta de significados. LOGOS significa muito mais do que verbo. É o pensamento e a razão por trás, é uma transição entre a cultura grega e judaica e agora é repleta de significados. Enquanto DABAR fala do poder de Deus, LOGOS, usada por João é a palavra de Deus presente na segunda criação. Jesus encarna as qualidades da palavra DABAR. Ele é o LOGOS (encarnação da palavra). Jesus é o que ele nos oferece. Em Jesus a completa revelação da palavra acontece.
A palavra de Deus é uma revelação. O agente da primeira criação é o mesmo da segunda. Esta palavra não é somente poder, mas autoridade também. A revelação é poder e autoridade. (Cf. Isaías 52:10, 53:1). Revelar não é algo estático, mas algo repleto de poder. A palavra de Deus não é apenas conceitos. Como escreveu Paulo, “o evangelho é o poder de Deus”. Desta maneira, revelação é uma ação de poder e autoridade originada em Deus. Não é somente um conduto, mas é o seu poder. A proclamação pode transformar as situações. Deus existe, e como Deus existe ele se comunica, assim, há uma revelação especial em sua palavra.
Apesar das escrituras sagradas não apresentarem informações detalhadas de como a revelação ocorreu, elas nos apresentam um testemunho conclusivo. (Cf. II Timóteo 3:16). Em Daniel 2:20 a 22 está escrito que Deus revela o profundo e o escondido, há um conteúdo na revelação de Deus. Deus não é apenas o revelador, mas o objeto da revelação também. Deus revela a si mesmo, ele é o objeto/sujeito da revelação. Deus revela um conteúdo e a si mesmo. (Cf. I Samuel 3:21). Deus revela informações e conteúdos. (Cf. Deuteronômio 29:29).
Deus revela sua glória. (Cf. Isaías 40:5, Romanos 8:8). Deus revela sua justiça, sua ira, enfim, seus atributos (antropomorfismo). Revelar e revelação estão juntos com atos e doutrinas. “Deus não fará coisa alguma, sem antes revelar seus segredos aos seus servos os profetas” - Amós 3:7. A palavra segredos no hebraico é SODH, e significa aquilo que se discute em uma assembléia. Em revelação Deus anunciou o destino de Tiro; o profeta Daniel usa a mesma palavra no capítulo 10:1 (o conflito entre Grécia e Pérsia). No Novo Testamento o evangelho foi revelado. Paulo, o apóstolo, recebeu o evangelho por meio da revelação, o mistério que foi revelado (Cf. Gálatas 1:11, Efésios 3:4, 5). Estes textos apontam para duas verdades importantes: nenhum homem produziu a revelação e a revelação tem um conteúdo.

5.3 Características da Revelação Especial:
A revelação especial é indispensável, pois o homem é pecador. A revelação especial é sempre uma iniciativa de Deus, a qual vem a pessoas específicas escolhidas por ele. A revelação especial ocorre em situações concretas, ou seja, leva em consideração a cultura e a pessoa. Tem um aspecto antrópico porque Deus fala de onde o ser humano está.
Deus usa a língua das pessoas e não a linguagem do céu (antropia). Desta maneira, a bíblia como revelação especial não foi infectada pela humanidade, mas foi afetada pela humanidade manifestada no ser. A revelação especial é remediadora, somadora e redentora. Os teólogos falam de diferentes nomes quando se referem a revelação especial, vejamos alguns:
1. Revelação MEDIADA, porque usa um meio, há um meio.
2. Revelação CÓSMICA, porque ela deve entrar em nosso mundo; (Abraham Kyeper).
3. Revelação SACRAMENTAL, porque é Deus quem utiliza as coisas da nossa realidade como sinais exteriores para comunicar verdades eternas; (Calvino, Lutero e Barth).
4. Revelação ANTRÓPICA, porque Deus se ajusta a nós e a nossa realidade, há uma condescendência divina;
5. Revelação ORGÂNICA, porque apresenta um conteúdo
6. Revelação DINÂMICA, porque é acompanhada de poder e conteúdo;

É a revelação especial proposicional (conteudista) ou apenas um encontro? A neo-ortodoxia tem negado e rejeitado o aspecto proposicional da revelação e alegado que se trata de um encontro. Tradicionalmente a igreja de Cristo aceita que ela é proposicional (contém proposições, conteúdos). Mas, o que diz a bíblia? A palavra é a autoridade final. Tanto a posição tradicional quanto a neo-ortodoxia concordam em alguns pontos: que a revelação especial começa com Deus e é necessária, porém para a teologia tradicional há um conteúdo, enquanto para a neo-ortodoxia há apenas um encontro. O fato é que Deus revela o mistério (Cf. Daniel 2:20, 22, 46,47). As frases mais comuns no Antigo Testamento são: “disse Deus, a palavra de Deus veio a mim, assim diz o Senhor, ouvi a palavra do Senhor”. Em Gênesis 11:7 o verbo ouvir significa entender, o que demonstra que era algo que tinha conteúdo. (Cf. Mateus 11:25, 27, Efésios 3:1 a 3). Com certeza na revelação especial ocorre um encontro, mas há comunicação do conhecimento. O cristianismo é um encontro com Deus, mas há neste encontro um conteúdo.


Conclusão:
Olhando para o conceito de revelação de Deus podemos perceber que infelizmente estamos com profundas distorções quanto a esse assunto dentro das igrejas e também em meio aos cristãos de maneira geral.
A idéia que encontramos com grande força é a de que precisamos buscar a Deus e tentar assim faze-lo revelado a nós, ou seja, o ser humano está tentando cada dia mais conhecer a Deus sem se dar conta de que Ele precisa desejar ser conhecido. Com isso posso dizer que por graça e misericórdia nosso Deus decidiu se fazer conhecido, ou seja, o próprio Deus quis ser conhecido e então resolveu se revelar, por isso toda tentativa de seres humanos como nós em conhecer a Deus só é possível porque Ele quis ser conhecido e para isso se revela a cada dia.
As formas da revelação de Deus me levam a concluir que seja através da história, da doutrina, da experiência, da presença, da palavra ou da natureza, a plena revelação se deu em Jesus Cristo e por isso hoje tenho esperança e perspectiva em como crer, no que crer, porque crer e para que crer.
Digo isso, pois, quando penso em um Deus transcendente, sobrenatural que decide por livre vontade, de forma imanente, se revelar à humanidade de maneira tão linda e objetiva, passo a entender que Sua revelação através de tantas formas culminou em Jesus Cristo que se fez homem e subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homem; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz.
E por isso entendo que a revelação de Deus, bem como as formas dessa revelação nada mais são do que a revelação clara do imensurável amor de Deus pela humanidade e Seu desejo em se relacionar com ela.

Bibliografia

1. Dicionário Internacional de Teologia do NT,
2. GIBELLINI, R., A Teologia do Século XX, trad. João Peixoto Neto, São Paulo: Edições Loyola, 1998, pág 25
3. PANNENBERG, Wolfhart. Fé e Realidade, p. 82.
4. PACKER, James, Fundamentos da Teologia Cristã, pág. 45, Editora Vida,
5. RAMM, Bernard, Revelação especial e a Palavra de Deus, pág.100, Editora Cristã Novo Século, 2004.
6. RICOEUR, Paul. Ensaios sobre interpretação bíblica, p. 59. Editora Mundo Cristão
7. SMITH, Ralph L, Teologia do Antigo Testamento, pág 111. Editora Vida Nova SP.
8. ERICKSON, Millard J Introdução a Teologia Sistemática pág 55 Editora Vida Nova.

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